sábado, 11 de setembro de 2010

A volta do bode preto da velha esquerda

Matéria quentinha do meu querido Arnaldo Jabor:
Posto aqui por concordar com absolutamente TUDO.

"Meu primeiro grande amor começou num “aparelho” do Partido Comunista Brasileiro em 1963, meses antes do golpe militar. Era um pequeno apartamento conjugado na rua Djalma Ulrich, em Copacabana, em cima de uma loja de discos. No apartamento, havia um sofá-cama com a paina aparecendo por um buraco da mola, entre manchas indistintas - marcas de amor ou de revolução? Na parede, um cartaz dos girassóis de Van Gogh e, numa tábua sobre tijolos, livros da Academia de Ciencias da URSS. Um companheiro me emprestara a chave com olhar preocupado, sabendo que era para o amor e não para a política. “Cuidado, hein? Se o dirigente da base souber...”, disse-me, vendo a gratidão em meus olhos.

Eu era virgem de sexo com namoradas, pois pouquíssimas moças davam nessa época anterior à pílula; transar, para elas, era ainda um ato de coragem política. As moças iam para a cama, pálidas de medo, para rompercom a vida burguesa, correndo o risco da gravidez – su premo pavor. Famintos de amor, usávamos até Marx para convencer as meninas. “Não. Aí eu não entro!”, gemiam , empacadas na porta do apartamento. Nós usávamos argumentos que iam de Sartre e Simone até a revolução: “Mas, meu bem... Deixa de ser alienada... A sexualidade é um ato de liberdade contra a direita...”.

A guerra fria, Cuba, China, tudo dava a sensação de que a revolução estava próxima. Revolução era uma varinha de condão, uma mudança radical em tudo, desde nossos pintinhos até a reorganização das relações de produção. Não fazíamos diferença entre desejo e possibilidade. E, como todos, tínhamos horror ao demônio do capital e da administração da realidade para a luta (coisa chata, sem utopia...). Por isso, a incompetência era arrepiante. Ninguém sabia administrar nada, mas essa mediocridade era compensada por bandeiras e frases bombásticas sobre justiça social.

Revolução era perfeito para justificar a ignorância, pois essa ala da esquerda burra (a inteligente cresceu e mudou...) não precisava estudar nada profundamente por ser a favor do bem e da justiça – a “boa consciência”, último refúgio dos boçais. Era generosidade e era egoísmo. A desgraça dos pobres nos doía como um problema existencial nosso, embora a miséria fosse deles.  Era difícil fazer uma revolução? Deixávamos esses detalhes mixurucas para os militantes tarefeiros ou (mais absurdo ainda) delegávamos o dever da revolução ao presidente da República. Deu nos vinte anos de bode preto da ditadura.

Por que escrevo essas coisas antigas, estimado leitor? Porque muita gente que está aí, gritando slogans, não quer entender que a via mais revolucionária para o Brasil de hoje é justamente o que chamávamos de democracia burguesa, com boquinha de nojo. Muita gente sem idade e sem memória não sabe que o caminho para o crescimento e justiça social é o progressivo aperfeiçoa mento da democracia, minando aos poucos, com reformas, a tradição escrota de oligarquias patrimonialistas. Escrevo isso porque acho que a luta de hoje é entre a verdadeira esquerda, que amadureceu, e uma esquerda que quer continuar a bobagem, não por romantismo, mas porque o Lula abre-lhes as portas para a lucrativa pelegagem. Vejo, assustado, que querem substituir o patrimonialismo burguês pelo sindicalista. Vão partir para um controle soviético e gramsciano vulgar do Estado para ter salvo conduto para suas roubalheiras num país sem oposição, entregue a inimigos da liberdade de opinião. Escrevo isso enojado pela mentira vencendo com 80% de Ibope, apagando da história brasileira o melhor governo que já tivemos de 1994 a 2002, com o Plano Real, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, com a telefonia moderna de hoje, com o Proer, com privatizações essenciais, com a diminuição da pobreza em 35% – que abriu caminho para o progresso econômico de hoje, apropriado na “mão grande” por Lula e seus bolchevistas.

Também estou enojado com os vergonhosos tucanos, apanhando na cara por oito anos sem reagir. O governo Lula roubou FHC e o mais sério período do país e seus amigos nunca o defenderam nem reagiram. São pássaros ridículos em extinção.

Tenho orgulho de que, há 40 anos, no apartamento do Partidão com minha namorada, eu gostava mais dos girassóis de Van Gogh do que dos livros de Plenkanov. Por isso, para levar meu primeiro amor ao apartamento, usei uma cantada de esquerda: “Nosso amor também é uma forma de luta contra o imperialismo norte-americano”. E ela foi.
,
Parabéns, para quem, como o Jabor, já
conseguiu vislumbrar a triste realidade
de nosso país....





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