sexta-feira, 6 de novembro de 2009

AQUELES QUE, VENDO, NÃO VÊEM!

Voltando ao tema da cegueira, aproveito este espaço para parabenizar o excelente texto "As cegas", publicado recentemente na revista universitária Mosaico da Unesp de São José do Rio Preto, v.8 n.1 p. 67-76. O trabalho apresentado pelos alunos Leandro, Mariana e Thiago, teve a coordenação da Profa. Dra. Fabiana Cristina Komesu, da disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos II. O tema gira em torno da falta de visão baseado no livro de José Saramago "Ensaio Sobre a Cegueira". Com o objetivo de analisar os diversos tipos de olhares  dentro da obra os alunos fizeram ainda uma comparação da construção do sentido metafórico com o contexto histórico-social em que se constrói a narrativa. O texto, muito bem elaborado, nos leva a questionar sobre uma possível alienação ideológica em que, tudo aquilo que nos move pode estar subordinado a uma ditadura do consumo capital. Segundo os alunos: " Tratando da crítica que Saramago faz às deficiências sociais, o fato de termos na narrativa uma sociedade às cegas, nos faz notar que temos outros sentidos a serem explorados", (Mosaico, 2009). Interessante notar o paralelo traçado pelos autores entre o livro de Saramago e o filme sobre a obra, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles. Na narrativa escrita os leitores conseguem prontamente relacionar os fatos e os personagens com os acontecimentos e pessoas da vida real. Porém, esse jogo de construção de imagens metafóricas, não ficam bem claros no filme: "[...]isso por causa dos diferentes gêneros discursivos utilizados, tanto no filme quanto no livro", (Mosaico, 2009). As sensações subjetivas despertadas no leitor são construídas através de uma comparação à partir das imagens apresentadas no livro e o sistema social do mundo real: "Esse tipo de construção subjetiva não se torna claro na apresentação do filme" (Mosaico, 2009). Isto leva muitas pessoas a não gostarem do filme, principalmente aqueles que não leram o livro. "Leitores mais ingênuos podem pensar que a obra filmada não passa de pura ficção, sem associá-la, em nenhum momento, a algo da realidade, algo que possa acontecer dentro do sistema em que vivemos, com todos os conceitos e pré-conceitos que adotamos ao longo de nossa existência", (Mosaico, 2009). A cegueira na obra de Saramago nada mais é que o sintoma da alienação do homem para consigo próprio. Todos os excessos da vida moderna não permitem ao homem enxergar as coisas mais simples de sua existência. A própria natureza humana encontra-se oculta pela cegueira do homem contemporâneo. Isto possibilitou aos autores do texto concluirem que, talvez o objetivo principal de Saramago ao escrever esta obra é: "[...] fazer as pessoas entenderem que uma sociedade competitiva pode provocar sua autodestruição", (Mosaico, 2009). 
Para encerrar transcrevo uma citação de Wim  Wenders, no documentário A janela da Alma, de 2001: " Felizmente, a maioria de nós é capaz de ver com os ouvidos, de ouvir e ver com o cérebro, com o estômago e com a alma. Creio que vemos com os olhos, mas não exclusivamente", (apud. Mosaico, 2009).


Um abraço a todos.
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