terça-feira, 28 de setembro de 2010

DEGUSTAÇÃO DE VINHO EM MINAS GERAIS


Degustação de vinho em Minas 
- Hummm... 
- Hummm...

- Eca!!!

- Eca?! Quem falou Eca?

- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?

- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas... - Putaqueupariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor? 
- Cêbêsta sô, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da ch uva , lá isso tá!
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild! 
- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como  segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então... 
- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada! 
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no... - Mais num vai introduzi é nada e nunca! Desafasta, coisa ruim!

- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustaç
 o. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens... - Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta... 
- O senhor poderia começar com um Beaujolais! - Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana! 
- Então, que tal um mais encorpado? 
- Óia lá, ocê tá brincanu cum fogo...

- Ou, então, um suave fresco! 
- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de metê um tapa na sua cara desavergonhada!
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar! - Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, memo! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...

- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio? 
- E que tal a mão no pédovidu, hein, seu fióte de Belzebu? 
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei? - Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia! 
- Mole e redondo, com bouquet forte? 
- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é trêis! Num corre, não, fiudaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta num tem amor na vida não seu peste!

Luiz Fernando Veríssimo


Inté pro cêis!



Um comentário:

Anne Lieri disse...

KKKK...Sensacional texto do minerinho!Com ele não tem conversa!...rsss...Adorei sua escolha!Bjs,

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